POEMA PORTUGUÊS


Não sei se te adoro pelo lugar que preenches na minha solidão. Não Adoro-te porque estás viva em mim e sinto todos os teus medos.Talvez.
Adoro-te porque me confundes neste emaranhado de emoções que eu tão hábilmente tenho conseguido controlar.
Adoro-te porque, no calor do teu sofá, eu renasci do nada e do quase nada, como uma sombra que te persegue em sonhos, para te fazer pensar uma vida há tanto tempo adormecida. Adoro-te ? Sim. Porque quero calcorrear as tuas marés e respirar as tuas algas, pisar nas conchas que nos servem de tapete sob a nudez dos meus pés, galgar as ondas, afundar-me na tua espuma. Sim. Porque quero despedir-me do sol que me leva essa luz que se reflecte nos teus, mergulhar nesse azul e adormecer, sentir a tua mão que me ampara as costas, beber as tuas brisas, as tuas vodkas, cheirar o teu sal, pintar as tuas cores nos meus delírios.
Sim. Porque quero abraçar os teus silêncios de fim de semana, preencher os teus vazios e deixar-te livre, voar as tuas noites, arquear as costas de prazer, sentar-me nos teus arrepios, passear na tua boca.

Ou não ? porque ainda não vi Florença, não apanhei o combóio das almas gémeas, nem ouvi as histórias de quadros clássicos porque sou a tua virtualidade, mesmo com rosto, e mesmo com olhos que pousam em asas de borboletas, aquela a quem não queres tocar as tuas caixas de música e que permanecerá do outro lado dos teus fios electricos, em curto circuito, em pleno voo, qual colibri !

Sinto o medo de que eu venha perturbar a tua paz, a tua des-rotina, o teu desasossego. Afinal, não te mereço. Sou um rabisco da ponta de um lápis. Mas estarei aqui para te dizer quem sou, para que não tenhas medo nem de voar nem da morte de parte de ti, nem da perda de liberdade... porque a verdadeira liberdade está no amor, na partilha, no risco de nos magoarmos ...

Maria Leonor de Saint Maurice

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